sexta-feira, 17 de julho de 2009

CRÔNICA - Inesquecíveis bares do Riachão - Chapéu de Couro

Quanta memória um bar nos trás. Certamente aos alcoólicos, anônimos ou assumidos, um bar é uma referencia de vida. Feliz daquele que exerceu na vida de bar o controle tênue do hábito sem as dores do vício, da decrepitude moral. Em Riachão tenho lembranças, muitas de infância, dos bares que marcaram época na cidade, com suas novidades e seus “causos” impagáveis.

Aqui narrarei fatos ocorridos em bares jacuipenses, coisas que me ocorrem neste momento, sem necessariamente obedecer a uma cronologia, mas ao sabor de flashes, neste momento fecho os olhos e revejo situações que só acontecem nos bares da vida.

Bar CHAPEU DE COURO, de Carlinhos de Profesora Carmem, situado na Rua Aurélio Mascarenhas, digo, Rua Nova, junto ao Hotel de Anaídes, o velho e bom hotel sem estrelas de Anaídes, logo ali na passagem para a Lira 8, onde aconteciam as melhores festas da cidade. Ah! O saudoso Baile Preto e Branco, este não seria completo se antes não tomássemos umas e outras no Chapéu de Couro, sofisticadamente decorado com pinturas em relevo de cimento retratando coisas da terra, como um vaqueiro a derrubar o boi e um vistoso pé de sisal, obras de um anônimo Mario Cravo,de um Portinari matuto.
Aquela cena não me saia da cabeça: aquele boi que nunca caia, talvez um contraponto às dezenas de clientes que caiam ali mesmo na calçada, nocauteados pela força da Batida de Limão, especialidade da casa, ou da cerveja quase gelada.
Foi no Chapéu de Couro que o maravilhoso Talela (Engenheiro, filho de Bino Sampaio e Dona Verônica), fez a mais celebre declaração de amor acontecida no indigitado estabelecimento.
Lá estava o Tatela tomando todas na companhia da sua Lady e de amigos. Ele meio que contrariado, mas feliz, feliz por estar no Bar, e contrariado pela presença da namorada a lhe provocar cócegas ao sussurrar frases românticas ao seu ouvido. Ele dividido entre o papo da galera e os sussurros da amada, até que em dado momento ela soprou em alto e bom tom: TALELA, VOCÊ ME AMA? Fez-se o silencio, e ele com um olho nela e outro no balcão do bar, respondeu: UM POCO, assim, aberto, como se existisse um acento agudo no "'ó".
Rimos todos da pergunta arremessada como um dardo olímpico, bem como da resposta, que virou jargão na cidade, ali no final dos anos 70 (século passado, eu sei), UM POCO virou moda, se dizia por tudo: gosta de trabalhar? UM POCO; come feijão? UM POCO; está cansado? UM POCO.
E eu sempre me perguntei o que o Talela realmente queria dizer naquele momento, já que, logo depois ficou provado que ele não amava sua garota nem um pouco, pois aquele romance durou menos que um garrafa de cerveja numa rodada de sedentos, ficando apenas o enigma da sua resposta.
Tenho pra mim que ele, ao sofrer o ultimato da pretendente, o Tatela estava a fim mesmo era de tomar uma gelada, que era o que verdadeiramente interessava naquele momento, e, meio que procurando o garçom, ele respondeu: UM POCO, mas na verdade ele só queria pedir UM COPO, pois a cerva estava esquentando na mesa do Chapéu-de-Couro.

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